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Liberdade e solidão

  • Foto do escritor: Luciana Borges
    Luciana Borges
  • 2 de nov. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 6 de nov. de 2023

Nesta semana, comecei a ler um livro novo de um psicanalista humanista e, apesar de o livro já existir há algumas décadas, fiquei impressionada com a sua atualidade.

Sua teoria, para simplificar bastante, relaciona o nosso constante desejo por liberdade, mas o quanto esse desejo é permeado de medos e angústias. Natural, afinal de contas, estamos acostumados a viver no mundo do controle, onde as coisas escapam ao nosso raciocínio. Algo como: se sou livre, então para onde vou?


Junto com isso, algo do livro me chama a atenção: a conquista moderna da liberdade individual nos trouxe outro problema: a solidão. Esse autor não é filho da era das redes sociais, das hiperconexões, nem sabia o que era celular. Mas é interessante como traz essa ideia de que um mundo que nos dá maior sensação de imprevisibilidade também enfraquece nossos vínculos, nos torna mais inseguros e, por fim, nos afasta uns dos outros.


Em um rápido passar do tempo, chegaríamos no mundo de hoje: as pessoas frequentemente falam com todo mundo e no fundo sentem que não estão de fato com ninguém. Será este um reflexo dessa vida líquida, para utilizar a expressão do filósofo Zygmunt Bauman, onde tudo escorre pelas mãos, inclusive as relações?


Pessoalmente, não gosto de nenhuma ideia catastrófica, até mesmo porque essas ideias nos desviam das soluções criativas. E mesmo vivendo em um mundo conectado mas que desconecta, é bom lembrar que somos agentes; sujeitos das circunstâncias.


Sentir-se sozinho definitivamente não é imperativo e nem apenas fruto da vida contemporânea. Isso também se relaciona com a nossa história, com aquilo que vem das nossas vivências. Por isso um pouco de coragem será sempre necessária quando falamos sobre a busca por liberdade - o que é um processo de análise, ao fim, onde encaramos a nós mesmos sessão após sessão, se não um caminho contínuo em direção a uma liberdade genuína? Ou seja, criarmos a capacidade de estabelecermos relações genuínas, mas que não atendam às neuroses de controle das outras pessoas, sejam elas pais, filhos, companheiros, etc, ou de nossas próprias neuroses (é sempre bom lembrar que na maioria das vezes somos nós próprios a nos aprisionar sem que a gente nem ao menos perceba).


Não é mesmo à toa que o caminho para a real liberdade dá medo; não é a liberdade da propaganda, saltar de paraquedas, nem nada parecido. Aqui, estamos falando em apropriar-se das suas escolhas e da vida que de fato cada um quer escolher para si. Sabendo que isso traz consequências e responsabilidades. E que se abrir exige abertura interna. Vulnerabilizar-se dá medo; começar a retirar os tijolos do muro que construímos ao nosso redor para nos proteger também. Mas é um passo decisivo em direção a pessoa que desejo ser (e não quem aquela outra pessoa quer que eu seja).


Que bom que essa caminhada individual não precisa ser feita de forma tão só.

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